» Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro

(Nota: 10,0)
Título Original: Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro
Gênero: Drama
Diretor(es): José Padilha
Roteiristas: José Padilha, Bráulio Mantovani, Rodrigo Pimentel
Ano de Lançamento: 2010.
Elenco: Wagner Moura, Irandhir Santos, André Ramiro, Maria Ribeiro, Sandro Rocha, Milhem Cortaz, Pedro Van Held, Tainá Müller, Seu Jorge.
Duração: 115 minutos.

Quando se decide fazer um segundo filme em razão do sucesso comercial do primeiro, é algo bem questionável, pois não existira essa possibilidade antes. A fórmula nem sempre funciona com o segundo da mesma forma que laborou com o original, assim acaba caindo na mesmice e termina por não fazer tanto sucesso. Anunciada a continuação de Tropa de Elite, não vou negar que fiquei com um pé atrás, justo por entender que isso sempre acaba resultando em algo negativo. No entanto, o que podemos ver agora foi justamente o contrário e algo bem raro, porque pra mim o segundo conseguiu ser melhor ainda do que o primeiro ainda que sejam abordagens diferentes.

Aquele que outrora conhecemos como Capitão Nascimento (Wagner MouraRomance) agora é Coronel do Batalhão de Operações Policiais Especiais. Depois de uma intervenção um pouco fora de controle do BOPE na prisão de detenção máxima Bangu I, Nascimento foi destituído do BOPE e direcionado para o serviço secreto de inteligência da Secretária de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. E ele enxerga nesta oportunidade, a chance de armar o BOPE de uma maneira que ele nunca conseguiu e assim exterminar os traficantes das comunidades. Porém é justamente na Secretaria que ele descobre que onde o tráfico sai o sistema entra e que o sistema é mais podre do que ele imagina. Descobre, então, que seu maior inimigo não está nas favelas e sim dentro da instituição pela qual ele matou tantos.

O foco deste novo filme do temido Nascimento está em torno da política e de como ela está diretamente envolvida com a corrupção dentro da polícia militar do RJ. A crítica se baseia única e exclusivamente nesta aliança que só faz favorecer os policiais e políticos corruptos, aqueles se beneficiando com o que arrecadam nas comunidades e esses com os votos que conseguem em razão da atuação das milícias. O roteiro tem uma maneira incrivelmente envolvente de nos guiar pela história juntamente a narração do protagonista, fazendo-nos acreditar em tudo que nos é mostrado.

Há ali uma claríssima crítica não só ao crime organizado em si, mas a política que alimenta este tipo de ação. Os direitos humanos também entraram na briga neste filme, fato omitido no primeiro, e alavancaram a ira do protagonista já que seu lema é ‘bandido bom é bandido morto’ e a prova cabal disso está quando ele é ovacionado em um restaurante por ter agido sem dó no caso do Bangu. Assim há uma severa crítica a essas Organizações Não Governamentais e seus representantes que procuram defender o direito dos ‘marginais’ sem antes compreender que ao defendê-los, dá-se margem para que eles só prejudiquem mais ainda a sociedade. Porém não isentam de culpa os policiais que também não tem querem saber quem é inocente ou culpado.

Aliado ao roteiro bem detalhado e amarrado temos uma trilha sonora inconfundível ao som da Banda Tihuana, assim como as atuações que são fundamentais para que se tenha total compreensão da realidade e da situação que ao contrário do primeiro filme conta-se a partir das questões políticas envolvidas e não tanto nas cenas de guerra urbana. Assim, a atuação é fundamental pra se ter a veracidade necessária, fato que foi muito bem trabalhado principalmente por parte de Wagner Moura que se eternizou nesse personagem. A direção não poderia ser diferente e também leva seus créditos por acreditar que poderia fazer um filme tão bom ou melhor que o primeiro. Assim como é impossível não falar do êxito que a fotografia tem nos ângulos bem trabalhados, assim como a montagem é de fundamentalmente importante para que nos faça ficar mais vidrado do que de costume na fita, belíssimo trabalho. Definitivamente é necessário ser visto, vale a pena, até mais de uma vez.

p.s.:  Pra quem é do Rio Grande do Norte. Parece que a figura do Deputado Estadual Fortunato foi tirada de um exemplo claro de um candidato eleito ao pleito de deputado federal pelo RN, hein? Impossível ser mais parecido, impossível.

14 Respostas

  1. Também gostei imensamente do filme. Minha humilde resenha:

    [Resenhas] Tropa de Elite 2

    Grande abraço !
    Tommy
    http://cinemagia.wordpress.com/

  2. Eu achei sensacional! Padilha é foda! Um cineasta que pensa à frente dos coleguinhas brasileiros de sua profissão. Ele é contador de histórias e muito técnico, observador da máquina hollywoodiana. Não tem medo de abraçar o modo americano de se fazer cinema.

    Abs!

  3. Tommy,

    Impossível não sair empolgado do cinema.

    Otávio,

    Padilha ultimamente está dando de dez a zero em muitos diretores tupiniquins.

    Abraços!

  4. […] » Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro « Portal Cine […]

  5. Robson, com certeza lembra muuuuuito um certo deputado federal recentemente eleito aqui no RN! Será que se o filme tivesse sido exibido antes do 1º turno ele teria sido eleito? Fica a pergunta! Abraço!

  6. Padilha conseguiu superar o primeiro com extrema facilidade até. Maravilhosa! Bom saber que ainda tem gente no Brasil com colhões.

  7. Fábio,

    Né? Impossível não associar. Seria ótimo se não tivesse sido eleito.

    Roberto,

    Superou, ainda que o primeiro também seja ótimo.

    Abraços

  8. Um filme pra esquerdistas apoiarem direitistas e vice-versa. Nem sou tão fã do 1º, mas esse segundo , para mim, é histórico.

  9. Apesar de gostar do primeiro filme, acho que analisando sem empolgação ele não é tão bom quanto se pinta: passa muito tempo demonstrando como o BOPE é cruel, como o BOPE é legal, que eles são fodões, blá blá blá. Não há uma história – ou um conflito – central e isso não me agradou muito. Não que isso seja primordial (Cidade de Deus é um exemplo perfeito. O filme é fantástico). Mas acho que o filme fez tanto sucesso não por ser bom, mas por ser ‘legalzão’ demais. Com os bordões, as surras, os métodos de tortura. Tudo muito ‘true’, principalmente pros adolescentes..

    Já esse Tropa 2, fantástico. Absolutamente fantástico! Atuação perfeita de Wagner Moura. O filme é tenso e pesado emocionalmente o tempo todo. A gente se envolve e torce o tempo todo pras coisas correrem bem simplesmente porque é ISSO que a gente vê no nosso dia a dia. É um filme real pra nós brasileiros, inclusive de classe média.

    Uma das análises mais legais que explicava porque o cinema argentino fazia tanto sucesso no país e aqui no Brasil não acontecia o mesmo com nosso cinema, é a que dizia que os filmes de lá retratam a classe média, que é quem lota os cinemas. E em Tropa de Elite, apesar de não ser o tema central, eles tocam justamente no tema que a classe média brasileira mais se preocupa: a segurança. Mesmo utilizando como pano de fundo, no filme, a segurança das favelas, a classe média brasileira sabe que toda insegurança que vivemos se deve ao que começa por lá.

  10. Brenno,

    É por aê.

    Igor,

    O primeiro, o tiro meio que saiu pela culatra. O segundo teve seu tom perfeito.

    Abraços!

  11. Vou ver o filme, provavelmente, hoje. Mas já me adiantaram que é uma mea culpa pelo tom fascista do protagonista no primeiro filme… Que o roteiro vai ser foda, não duvido: Mantovani é o cara!

    Abs!

  12. Eu também adorei esse filme. Acho que está mais perto ainda da sociedade atual, levantando questões extremamente visíveis a todos. E Wagner Moura merecia um prêmio.

  13. Eu adorei o filme. Muito melhor do que o primeiro. Apesar que o Tropa de Elite 1 eu gostei bastante, pois tudo pra mim naquele filme era novidade. Então posso escrever que gostei dos dois filmes. Tomará que tenha continuação. E o Wagner Moura arrasou neste filme. Ele está perfeito.

  14. […] “Quando se decide fazer um segundo filme em razão do sucesso comercial do primeiro, é algo bem questionável, pois não existira essa possibilidade antes. A fórmula nem sempre funciona com o segundo da mesma forma que laborou com o original, assim acaba caindo na mesmice e termina por não fazer tanto sucesso. […]O que podemos ver agora foi justamente o contrário e algo bem raro, porque pra mim o segundo conseguiu ser melhor ainda que o primeiro, ainda que sejam abordagens diferentes”. Robson Saldanha, Portal Cine. […]

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