≈ Noel, poeta da Vila ≈

de Ricardo Van Steen (2006)

de Ricardo Van Steen (2006)

Essa leva de novos sambistas vem resgatando o que há de melhor no samba brasileiro. Garimpando, nós somos apresentados a músicas geniais com letras melodiosas e que nos apresentam histórias tristes, curiosas, engraçadas. Tendo vivido apenas 26 anos, Noel Rosa nos presenteou com mais de 230 composições, muitas delas esquecidas em gavetas ou de pouco sucesso. A verdade é que “Noel, poeta da Vila” nos mostra um pouco mais daquele que foi um grande contribuinte da música popular brasileira.

Neste longa, podemos conferir a nata do samba em seu momento de ouro, onde temos como personagem principal aquele que tinha todas as ferramentas para ser um grande médico, porém preferiu se enveredar pelos becos da Lapa e viver uma vida de cabarés e composições. Amigo de grandes compositores como Cartola, Noel subiu o morro, desafiou musicalmente outros sambistas e entregou-se nos braços da Dama do Cabaré.

Por se apresentar a vida de um grande músico, este filme tem uma musicalidade deliciosa e que faz o espectador sambar mesmo sem querer e vai muito além: nos deixa muito curiosos para saber um pouco mais da música e da cadência que tão talentosamente eram apresentados pelo sambista ousado Noel Rosa. Um elenco pouco conhecido, com exceção da sempre dedicada Camila Pitanga, “Noel, poeta da Vila” encanta pela sua simplicidade e por um roteiro que não quer ser grandioso e acaba conquistando pela sua simplicidade. Vale a pena, do início ao fim.

Elenco:  : Rafael Raposo, Camila Pitanga, Lidiane Borges.

Roteiro: Pedro Vicente

(Nota: 9,0)

≈ Ladrões de Bicicleta ≈

de Vittorio De Sica  (1948)

de Vittorio De Sica (1948)

A Itália no pós-guerra viveu momentos de muita dificuldade e isso se refletiu diretamente no cinema também. Podemos encontrar neste filme a maior expressão do realismo italiano, assim é possível enxergarmos uma Itália desolada por uma guerra mundial, cheia de desemprego e muita desgraça. O realismo italiano mostrou uma forma cruel de tentar viver a vida, onde os protagonistas, em sua maioria artistas amadores, viviam uma realidade difícil de encarar e cheia de desafios a serem vencidos, dia após dia.

Em Ladrões de Bicicleta não é diferente, Ricci arranja um emprego e precisa de sua bicicleta de volta, assim penhora os lençóis que guarnecem sua casa com o intuito de tirar a sua bicicleta do “prego”. Porém, para seu azar, logo no primeiro dia de trabalho tem sua bicicleta roubada e fica sem a possibilidade de seguir adiante com seu emprego e assim poder dar de comer a sua família.

A jornada Ricci juntamente com seu filho Bruno nos envolve do inicio ao fim e nesse momento observamos que em atos de desespero, fazemos coisas que jamais sabíamos que seriamos capazes de fazer. É um lado do comunismo italiano que foi secamente demonstrado, onde a cumplicidade da sociedade em se unir em prol do outro se mostra muito evidente, porém o que não esperamos é que não necessariamente a sociedade possa se unir em prol daquele que simpatizamos desde o primeiro momento do filme. Não é à toa que este se tornou um clássico do cinema europeu.

Elenco:  Lamberto Maggiorani, Enzo Staiola, Lianella Carell.

Roteiro: Luigi Bartolini, Cesare Zavattini.

(Nota: 9,0)

≈ Amor ≈

de Michel Haneke (2012)

de Michael Haneke (2012)

O amor tem seu lado bonito, aquele lado apaixonado, que nos faz enxergar somente as coisas boas da vida, que nos faz entender que a pessoa por quem você está amando é aquela que você quer ficar pelo resto da vida. Porém, junto com esse pensamento, não notamos que o amor tem que ir muito além do que a simples vontade de ficar juntos. Existem dois lados do amor e não se pode querer um sem ter o outro como consequência. Até onde vai o significado da palavra ‘amor’? Até que ponto iremos em nome do amor? Haneke neste seu mais novo longa nos mostra a dor e o sofrimento que o amor pode causar e não por causa da desilusão amorosa e sim porque o amor permanece nos momentos mais difíceis, como na doença. Um roteiro bem cuidado e preocupado com os mínimos detalhes, passando aos espectadores a concepção própria do amor envelhecido, além disso somos presenteados com uma atuação esplendorosa de Emmanuelle Riva. A primorosa direção de Michael Haneke é um atrativo a parte, é insistente ao tentar captar a essência dos personagens em longos segundos, nos entregando uma fase da vida que pode ser triste, mas que reforça ainda mais o amor que um sente pelo outro. É a face cruel e, ainda assim, bonita do amor. Chocante e excelente!

Elenco:  Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert.

Roteiro: Michael Haneke

(Nota: 9,5)

≈ As Vantagens de Ser Invisível ≈

de Stephen Chbosky (2012)

de Stephen Chbosky (2012)

Creio que para se fazer um filme adolescente que realmente seja convincente, deve haver muito cuidado com o tema  a ser abordado, bem como a condução do roteiro para que haja uma maior interação entre espectador e o longa. Talvez esse filme passasse despercebido por mim visto que não aparenta ser tão interessante quanto de fato é. Naturalmente sabe-se que não é somente nas escolas americanas que figuram os populares, porém aparentemente nessas escolas há grupos muito bem definidos e o protagonista, Charlie (Logan Lerman), não se mostrava bem adaptado por qualquer grupo que fosse.

Assim, As Vantagens de Ser Invisível não é só mais um retrato de adolescentes americanos, ele vai além, nos mostra a história daqueles que não figuram como os populares na escola e que isso nem sempre é o problema central daqueles adolescentes. Há uma condução muito cuidadosa do roteiro para que as pontas soltas fossem respondidas de maneira sutil e não menos emocionante, fato destacável também pela direção muito responsável, o que nos leva a apontar a curiosidade de o roteirista e diretor ser também o autor do livro que deu origem ao longa.

Por fim, devemos chamar atenção a trilha sonora que mostra um gosto particular dos jovens personagens e o quanto ela é capaz de mexer com suas vidas, assim a trilha sonora se mostra incrível, aliada a atuações fenomenais, dignas de aplausos. Enfim, esta película é altamente recomendável para você que é adolescente e para você que já passou por ela, ou então para aquele que admira a liberdade e a forma de ver dos adolescentes. Deleitem-se.

Elenco:  Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller.

Roteiro: Stephen Chbosky

(Nota: 9,5)

≈ As Aventuras de Pi ≈

de Ang Lee (2012)

Ao ver o trailer de As Aventuras de Pi, eu não consegui compreender como a história de um náufrago que divide o bote com um tigre teria uma ligação direta com a religião. Contudo, o que pude enxergar é que o longa de Ang Lee vai muito além de um simples duelo entre o adolescente e o tigre Richard Parker. As aventuras de Pi nos leva a pensar na vida, nos leva a entender que Deus nos reserva algo muito além do que uma simples “vida”, nós vivemos e não sobrevivemos.

Interessante ver um longa onde a mistura de mar, zoológico, Índia e fé fossem resultar numa obra tão cheia de histórias interessantes e lições que podem ser levadas por uma vida toda. Repleto de filosofias religiosas e não menos interessantes, este longa não pretende somente nos mostrar a narração crua de dois náufragos, um adolescente e um tigre e sim a cumplicidade que isso pode gerar bem como os aprendizados da situação. Uma película cheia de emoção, aventura e boas doses de fé, Ang Lee acerta a mão de maneira precisa. Muito além das linhas de discussões sobre religião, este filme nos faz repensar a nossa vida e as lições que podemos tirar dela e venho no momento certo, onde um novo ano se inicia e podemos recomeçar!

Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain.

Roteiro: David Magee e Yann Martel

(Nota: 9,0)

≈ Contágio ≈

de Steven Soderbergh (2011)

Ter um grande elenco de atores renomados nem sempre pode ser sinônimo de sucesso de um longa, isso porque uma série de fatores, como se sabe, forma um bom filme e é justamente aí que muitos se enganam quando criam expectativas demais acerca de qualquer película. Contágio é um bom exemplo de que não basta ter um elenco de primeira se a história não tiver um desenvolvimento que agrade. Tratar do tema epidemia é algo bem delicado, ainda mais quando se trata de vários continentes e, portanto, vários núcleos diferentes.

É notório que em alguns aspectos esta película consegue nos fisgar, tendo em vista que nada se mostra mais ‘agoniante’ que um mundo onde a doença pode estar na pessoa ao lado e você poderá ser o próximo a morrer em função de algo tão silencioso e invisível. Porém isso não é tudo, o roteiro procura mostrar um grande espaço e depois não mais se preocupa em desenvolvê-lo, trazendo a tona somente os personagens que combatem a doença, não há, dessa maneira, um bom desenvolvimento da história apresentada de início.

O vasto de número de personagens é outra coisa que me incomoda, assim muitos são completamente dispensáveis ao percurso da história. Portanto, entendo que ainda que o enredo seja muito bom, o roteiro não consegue convencer quando ao seu final nos mostra de uma maneira fácil e simples a forma como tudo se iniciou. Sou daqueles que preferiria ficar na ‘curiosidade’ inteligente quando subirem os letreiros.

Elenco: Marion Cottilard, Matt Damon, Kate Winslet, Jude Law.

Roteiro: Scott Z. Burns

(Nota: 6,0)

P.S.: É um prazer voltar a esse espaço depois de tanto tempo sem escrever, prometo que tentarei ser assíduo ou ao menos uma vez por semana. Até a próxima, folks! =)

≈ Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar ≈

de Woody Allen (1972)

É curioso que ainda nos dias de hoje ainda existam muitas e muitas pessoas que morrem de vergonha de falar sobre sexo. Acham que a intimidade tem que ser muito grande para que isso por ser comentado, porém muitos também já transpuseram essa barreira e falam com uma maior simplicidade possível. Em 1972, Woody Allen já tinha o atrevimento de tratar abertamente sobre isso no cinema e melhor ainda, dizer logo no título de seu filme que muitas pessoas gostariam de saber algumas coisas sexuais, contudo sempre tiveram medo, ou receio, de perguntar. É um título enorme, todavia auto-explicativo (também, se não fosse, né?).

Tudo Que Você Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar é uma tentativa, no mínimo curiosa, de Allen em desmitificar algumas dúvidas que muitos indivíduos ‘poderiam’ ter em relação ao sexo. Dessa forma ele se utiliza de histórias diferentes que tentam responder as devidas interrogações que são feitas no início de cada quadro. Algumas são boas histórias que tratam sobre assuntos realmente convenientes e conseguem nos tirar boas gargalhadas, no entanto a maioria é verdadeiramente fraca e não acrescenta nada que nós não saibamos, pelo menos nos dias de hoje. Talvez na época do lançamento tenha feito um sucesso mais aceitável, já que estamos falando de quase 40 anos atrás.

≈ A Rosa Púrpura do Cairo ≈

de Woody Allen (1985)

Não tem jeito, o cinema quando pega uma pessoa de jeito, é paixão na certa. E isso é um fenômeno mundial que permite aos espectadores entrar na história que está a sua frente e desfrutar dela da melhor maneira possível, seja sorrindo com o protagonista ou compartilhando o sofrimento dele. Woody Allen, na sua extensa filmografia, tem um momento de pura homenagem à sétima arte, ele mistura seu roteiro, sempre muito inteligente e sagaz, com uma clara e bonita homenagem aqueles que são apaixonados pelo cinema, aliando-se a ficção para dar um gostinho próprio a trama.

Assim, A Rosa Púrpura do Cairo é um lindo tributo ao cinema. Allen realmente estava muito inspirado ao escrever e dirigir este longa que consegue envolver seu espectador completamente sem soar algo forçoso ou desnecessário. O simples ato de o personagem sair da tela, reconhecer o cinéfilo e daí em diante desenvolver uma história em torno disso é algo fabuloso e o mais curioso é que os demais personagens não vêem aquilo como normal, enxergam algo atípico, deixando, de certa forma, o longa mais real ainda. Isso porque todo cinéfilo que se preze, como Cecilia (Mia Farrow – Crimes e Pecados), tem seus sonhos com os filmes, situações e estrelas de cinema. Personificar isso numa película é melhor ainda. Obrigatório para todo e qualquer cinéfilo.

Elenco: Mia Farrow, Jeff Daniels, Danny Aiello

Roteiro: Woody Allen

(Nota: 9,5)

≈ Enterrado Vivo ≈

de Rodrigo Cortés (2010)

Continuo acreditando que é realmente muito difícil fazer um filme com vários personagens em um só ambiente, como o mestre Sidney Lumet conseguiu com tamanha facilidade em seu primeiro filme 12 Homens e Uma Sentença. Dito isso, acredito ser mais difícil ainda conseguir fazer isso com um só personagem e, pior, dentro de um caixão. Logo, pensei que o resultado final não poderia ser satisfatório, deveria ser um filme entediante ao extremo. Porém, Enterrado Vivo conseguiu combater todo e qualquer pré-conceito meu em torno do formato do filme, assim como Danny Boyle conseguiu tal feito em 127 Horas. Visto que o filme tem uma tamanha dinamicidade que, até que você comece a entrar no clima, é difícil de acreditar que existe.

O diretor Rodrigo Cortés, aliado ao criativo e bem articulado roteirista Chris Sparling, procura trabalhar com a angústia do início ao fim da película, sem a menor piedade do que você vai sentir ao longo do filme. Assim, seus 90 minutos são de completa ansiedade pelo que se passa com o protagonista, e o roteiro permite uma rapidez que falta a muitos filmes com outros cenários que não um caixão e que, por isso, deixa o espectador completamente sem fôlego em determinados momentos. A atuação de Ryan Reynolds (A Proposta) é fundamental para que o longa tivesse um funcionamento eficiente também. Sem contar na trilha sonora que não é omissa e acompanha o ritmo do roteiro.

Elenco: Ryan Reynolds, José Luis García Pérez, Robert Paterson

Roteiro: Chris Sparling

(Nota: 8,5)

:: Band of Brothers ::

produzido por Tom Hanks e Steven Spielberg

Sempre ouvi falar muito bem dessa série e já pude conferir, através de outros seriados como Roma, que a HBO não é uma produtora de ‘dá ponto sem nó’. Portanto, quando decidem fazer algo, geralmente se mostra um projeto grandioso e ousado, o que proporciona para nós, espectadores, um entregue material de real qualidade que preza não só pelo envolvimento como também pelo impacto. Fazer um seriado de dez episódios somente, que trate da Segunda Grande Guerra, com um elenco enorme, não para qualquer um, as dificuldades vão além do que pegar uma câmera.

Quando mais novo, ao estudar história, sempre tive uma queda pela Segunda Guerra Mundial, achava as histórias e contextos em torno da dela algo fenomenal. Imaginar que tantos e tantos homens deram suas vidas por nós para que o mundo pudesse viver em paz sem a mão assustadora de Hitler e do nazismo sobre o mundo é algo extraordinário. Assim, ter a oportunidade de conferir na TV o que aconteceu de forma real, naquele período tenebroso do mundo, é realmente fantástico e fascinante.

O material recolhido pelos roteiristas de Band of Brothers é de uma riqueza impressionante, isso porque depoimentos dos feridos e heróis de guerra foram coletados visando maior veracidade dos fatos que ocorreram com a Companhia Easy, uma das companhias que mais sofreu baixas (leia-se: que mais teve mortos e feridos) durante todo o período de guerra. Sua trajetória vai desde o Dia D, no qual eles saltaram na Normadia, até 434 dias após o salto inicial, quando decretado o fim da Segunda Guerra com a rendição do Japão. Passaram pela Holanda, Bélgica, Áustria, França, Alemanha. A cada episódio temos um pouco do relato dos ex-combatentes acerca do que acontecerá naquele momento que está por vir.

A fotografia é bastante única e tem uma visão muito pessoal dos momentos das batalhas assim como dos momentos em que os soldados eram feridos. Aliado a isso, temos uma trilha sonora muitíssimo sensível feita pelo talentoso Michael Kamen que dá voz aos anseios e tristezas pelas quais os combatentes eram obrigados a conviver durante toda a guerra. Vidas foram perdida, ferimentos foram adquiridos e levados para o resto da vida com todos os que procuraram defender com unhas e dentes o que acreditavam ser certo.

Assim, muitos são os momentos em que é impossível conter as lágrimas, como no episódio que aparecem os campos de concentração, como no episódio em que o enfermeiro é o personagem central ou como nos episódios em que as perdas de alguns amigos são motivo de total depressão para outros. Band of Brothers é, portanto, um seriado que vai além de soldados durões que são invencíveis e que salvaram o mundo. Band of Brothers conseguem captar a alma de cada um deles através de suas expressões, através de seus anseios, através de seus medos que, acreditem, eram muitos. Principalmente para quem gosta da temática, esse seriado é obrigatório.